quarta-feira, 5 de julho de 2017

"Nullius in verba"

"Muitos são orgulhosos por causa daquilo que sabem; face ao que não sabem, são arrogantes." [Johann Goethe]
"Se você está descrevendo a verdade, deixe a elegância para o alfaiate." [Albert Einstein]


Prezados,

Tudo bem? 

No Teste ANPAD do dia 04/06/2017, fui procurado por um grande número de candidatos que estranharam a questão 20 da prova de Raciocínio Quantitativo.

Constatada a procedência do questionamento, elaborei um parecer condenando a questão (assista a este vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=yWfidDGWeOs; leia o PDF da solução completa aqui: http://bit.ly/2tp7S53, e veja a justificativa detalhada aqui: http://bit.ly/2tyX301, onde é provado que o valor de k não é igual a 2/3.

Enviei a questão a dois professores de Cálculo Infinitesimal e um deles enviou suas considerações em 5 páginas manuscritas em primorosa caligrafia, pois alegou ser muito lento para digitar... Ele é o melhor professor de Matemática que já conheci. Fui seu aluno em Cálculos I e II no começo da faculdade. Seu parecer condena tanto a resposta apontada pela banca como gabarito da questão (-13/12), quanto a minha resposta inicial (2/3), por causa da descontinuidade da função naquele ponto. Juntei as considerações dele com as minhas e apresento na figura a seguir, de forma resumida. Quem tiver interesse na resolução completa, basta clicar no link acima.

A questão está triplamente condenada:

1. Impõe restrição ao contradomínio de uma função, como forma de "justificar" o uso da sua inversa para o cálculo do k. Mas o valor de k não pode ser retirado diretamente da função inversa, pois o valor de k não está no conjunto Imagem da função primitiva e tampouco estará no Domínio da sua inversa!

2. Exige do candidato conhecimento de tópico não contido no Programa proposto para a prova: Limites;

3. Não apresenta, entre suas alternativas, resultado que contemple o que a questão solicita.


Há que se questionar, também, o fato de a questão não ter sido impugnada pela banca examinadora, levando a Organizadora a vender material didático com a "justificativa" de uma questão pífia, para que os candidatos se preparem para exames futuros...

No Brasil, vê-se um modo peculiar e estranho de se praticar Ciência... Enquanto os poucos e verdadeiros cientistas usam lápis com borracha na ponta, os arrogantes nem sequer usam lápis. Preferem repetir seus discursos vazios aos berros e à exaustão, até que vozes em contrário se calem...

As palavras dos 'poderosos' podem prevalecer (embora não devessem) em outras esferas da experiência humana. Mas, em se tratando de Ciência, a única coisa que conta é a PROVA e a VALIDADE do argumento. Todo o resto, não passa de falácia e arrogância.

Como professor de um curso preparatório para o Teste ANPAD, tenho o compromisso (e a obrigação legal e moral) de informar, corretamente, aos candidatos que apontam divergências nas provas para as quais fui o agente de sua preparação.

Erros dessa natureza não podem, de modo algum, prosperar; ainda mais quando consideramos o NÍVEL que a ANPAD pretende imprimir ao seu Teste, a fim de mantê-lo como um bom instrumento de avaliação e seleção de candidatos aos melhores PPGs em Adm. de Empresas do Brasil.

Abraços e sucesso!
MGA

Significado de arrogância: ato ou efeito de arrogar(-se), de atribuir a si direito, poder ou privilégio; qualidade ou caráter de quem, por suposta superioridade moral, social, intelectual ou de comportamento, assume atitude prepotente ou de desprezo com relação aos outros; orgulho ostensivo, altivez.

Nullius in verba ("Nas palavras de ninguém", em latim) é o lema da Royal Society of London. John Evelyn e outros membros de tal sociedade escolheram esse lema logo após fundarem a Sociedade, em 1660. Também pode ser livremente traduzido por  "Não apenas em palavras.", ou "Veja por si mesmo.",  ou ainda "Questione a autoridade."


Sou como minha mãe. Ela demorava para pegar o chinelo. Mas, quando pegava...