domingo, 6 de setembro de 2015

Cosmos

"Todo homem toma os limites de seu próprio campo de visão como os limites do Universo." [Arthur Schopenhauer]
 
Voyager 1
Em 20/08/1977, a NASA lançou ao espaço a sonda espacial Voyager 2. Em 05/09/1977 foi lançada a Voyager 1.

Sim! A Voyager 2 foi lançada antes da 1, com uma trajetória que aproveitaria um raro fenômeno de alinhamento planetário.

O objetivo inicial das duas missões era estudar os planetas Júpiter e Saturno e suas respectivas luas. Posteriormente foi ampliado com a inclusão das primeiras explorações de Urano e Netuno e o estudo do espaço após a orbita de Plutão.

Em 1990, com seus objetivos no sistema solar atingidos, iniciou-se um novo programa chamado Missão Interestelar Voyager. Em 2004 a Voyager 1 e em 2007 a Voyager 2 saíram da Heliosfera entrando em uma região conhecida como Heliosheath que é a fronteira do sistema solar com o espaço interestelar.

O astrofísico Carl Sagan (1934 - 1996) participou da equipe de imagens da Voyager e teve a ideia de que a sonda tirasse uma última foto.

Uma geração antes, um astronauta do último voo da missão Apollo até a lua havia tirado uma foto da Terra inteira: o planeta como um mundo sem fronteiras. Isso virou um ícone de uma nova consciência.

Carl percebeu o próximo passo nesse processo. Ele convenceu a NASA a direcionar a câmera da Voyager 1 para a Terra, quando a nave ultrapassou o planeta Netuno, para uma última olhada para casa, que ele chamava de "pálido ponto azul".
   
Planeta Terra visto pela órbita de Netuno
É bem ali! Ali está a nossa casa! Somos nós. Ali estão todos aqueles que você amou. Todos que conheceu, de quem já ouviu falar. Todos os seres humanos que já existiram, que vivem ou viveram suas vidas ali. O conjunto das nossas alegrias e sofrimentos. As inúmeras religiões, ideologias e doutrinas econômicas. Todos os caçadores e saqueadores, heróis e covardes, criadores e destruidores de civilizações, reis e camponeses, jovens casais apaixonados, pais e mães, todas as crianças esperançosas, inventores e exploradores, professores de ética, políticos corruptos, celebridades, líderes supremos, todos os santos e pecadores da história da nossa espécie viveram aqui, num minúsculo grão de poeira, suspenso num raio de sol.

A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica.

Pense nos rios de sangue derramados por todos os generais e imperadores para que, na glória do triunfo, pudessem ser os senhores momentâneos de uma fração desse ponto.

Pense nas crueldades infinitas, cometidas pelos habitantes de um canto desse pixel, contra os habitantes quase indistintos de algum outro canto, em seus frequentes conflitos, sua ânsia de recíproca destruição e seus ódios ardentes.

Nossas atitudes, nossa pretensa importância, a ilusão de que temos uma posição privilegiada no Universo, tudo é posto em dúvida por este ponto de luz pálida.

O nosso planeta é um pontinho solitário na grande escuridão cósmica que nos envolve.

Em nossa obscuridade, em meio a toda essa imensidão, não há nenhum indício de que, de algum outro modo, virá algum socorro que nos salve de nós mesmos.

A Terra é, até agora, o único mundo conhecido que abriga vida.

Não há nenhum outro lugar, ao menos num futuro próximo, para onde nossa espécie possa migrar. Visitar, sim! Habitar, ainda não! Goste-se ou não, no momento, a Terra é o nosso posto.

Já se disse que a Astronomia é uma experiência que forma o caráter e ensina a humildade.
   
Planeta Terra visto pela órbita de Saturno.
Talvez não exista melhor comprovação da loucura das vaidades humanas do que esta distante imagem. Ela sublinha a responsabilidade de nos relacionarmos mais bondosamente uns com os outros e de preservarmos e amarmos o pálido ponto de luz azul: o único lar que conhecemos.

Como nós, criaturas minúsculas, vivendo naquele pontinho de poeira, conseguimos imaginar como enviar uma nave espacial para as estrelas da Via Láctea?

Há apenas alguns séculos, um mero segundo do tempo cósmico, nada sabíamos de quando ou de onde estávamos. Ignorantes em relação ao resto do Cosmos, habitávamos um tipo de prisão, um pequeno Universo, cercado por uma casca de noz.

Como escapamos da prisão? Foi graças ao trabalho de gerações de investigadores, que adotaram cinco regras simples:

1. Questione a autoridade! Nenhuma ideia é verdadeira só porque alguém disse; nem mesmo eu.

2. Pense por si mesmo!

3. Questione-se! Não acredite em nada só porque você quer. Acreditar em algo não faz com que seja verdade.

4. Teste ideias pela prova obtida após observação e experimentação. Se uma ideia preferida não passar por um teste bem elaborado, está errada! Esqueça-a!
Siga a prova aonde quer que ela o leve. Se não houver prova, não julgue!

E, talvez a regra mais importante de todas:

5. Lembre-se de que você pode estar errado!

Até os melhores cientistas já estiveram errados em algumas coisas. Newton, Einstein e todos os outros grandes cientistas da história. Todos cometeram erros. Mas, é claro! Eles eram humanos.

A ciência é um jeito de não enganarmos a nós mesmos. E aos outros...

Se os cientistas pecam? Claro! Já usamos mal a Ciência, assim como qualquer outra ferramenta à nossa disposição, e é por isso que não podemos deixá-la nas mãos de poucos poderosos.

Quanto mais a Ciência pertencer a todos nós, menor a probabilidade de ser mal utilizada.

Esses valores sabotam os apelos do fanatismo e da ignorância. E, afinal, o Universo é basicamente escuro, com algumas ilhas de luz.

Descobrir a idade da Terra ou a distância entre as estrelas, ou como a vida evolui... Que diferença isso faz? Depende do tamanho do Universo em que você quer viver. Tem quem goste dele pequeno. Tudo bem... é compreensível.

Mas eu gosto dele grande. E, quando analiso tudo isso com o coração e a mente, meu espírito se eleva. E quando tenho esse sentimento, quero que seja de verdade, e não que seja algo que está acontecendo dentro da minha cabeça...
   

É importante saber se é real, e nossa imaginação não é nada, em comparação com a incrível realidade da natureza.

Quero saber o que há naqueles lugares escuros.
O que aconteceu antes do Big Bang?
O que está além do horizonte cósmico?
Como a vida começou?
Haveria outros lugares no Cosmos onde a matéria e a energia viraram vida? E com consciência?

Quero conhecer meus ancestrais. Todos eles!
Quero ser um elo bom e forte na cadeia das gerações.
Quero proteger meus filhos e os filhos das gerações futuras.

Nós, que incorporamos os olhos e ouvidos locais, e os pensamentos e sentimentos do Cosmos, começamos a aprender a história de nossas origens. Matéria estelar contemplando a evolução da matéria, traçando aquele longo caminho pelo qual ela chegou à consciência.

Nós e todos os outros seres vivos deste planeta carregamos um legado de evolução cósmica que cobre bilhões de anos.

Se levarmos esse conhecimento a sério, se passarmos a conhecer e amar a Natureza como ela realmente é, seremos lembrados pelos nossos descendentes como elos bons e fortes na cadeia da vida. E nossos filhos continuarão essa busca sagrada enxergando por nós, como enxergamos por aqueles que vieram antes, descobrindo maravilhas com as quais sequer sonhamos no Cosmos.

[Neil deGrasse Tyson - Cosmos, temporada 1, episódio 13]

Degravação: Milton Araújo.