quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

E se o Facebook reunisse tudo o que você vê na web?

A proposta do dono da maior rede social do mundo é que ninguém precise mais compartilhar nada; deixe que o Facebook faça isso por você.
AdNews

Em setembro, quando anunciou as mudanças no perfil do Facebook - a "Timeline" -, Mark Zuckerberg falou sobre uma intenção que preocupou muita gente. Trata-se do "frictionless sharing" (compartilhamento sem fricção), que voltou à pauta nos últimos dias.

A proposta do dono da maior rede social do mundo é que ninguém precise mais compartilhar nada; deixe que o Facebook faça isso por você. Enquanto navega, o internauta lê, assiste e escuta e tudo isso iria para o site sem que fosse necessário dar um "curtir".

A princípio é preciso autorizar essa coleta automática de dados, chamada de "Open Graph". A plataforma usa o "Ticker" (no Brasil, "novidades"), que publica tudo o que os usuários fazem - ali são postadas as atividades por meio de aplicativos que mostram o que estão ouvindo, assistindo, se estão cozinhando, correndo etc.

Nem mesmo nos Estados Unidos a Timeline funciona plenamente, tampouco o Ticker, portanto o assunto ainda não gerou tanta discussão. Porém, algumas pessoas já conseguem experimentar o recurso - e o feedback se divide entre positivo e negativo.

De volta
Alguns dias atrás o Financial Times reportou que houve um aumento considerável no tráfego de notícias velhas, muito velhas. Em uma semana específica, Tim Bradshaw, do blog FT Tech Hub, relatou que os assuntos mais vistos eram da década de 1990.

Isso aconteceu porque os internautas que autorizaram o Facebook a rastreá-los e, depois disso, acessaram alguma notícia antiga, tiveram as informações postadas no site involuntariamente.

Geralmente, quando lemos algo velho, segundo Jeff Sonderman, do Poynter, é por ser um assunto interessante ou bizarro (um garoto que foi pai aos 12 anos, por exemplo), portanto, os contatos desse usuário "curtiram", comentaram ou compartilharam, aumentando o tráfego sobre o que aconteceu há tempos.

Isso cria novas oportunidades para o mercado de informação, que não precisaria se preocupar tanto com as notícias quentes, e sim com o que poderia chamar atenção por mais tempo.

Automático demais
Ao mesmo tempo, criou sensações desagradáveis a quem encontrou no Facebook o que não gostaria que estivesse lá.

David John Walker, do Social Barrel, deu um testemunho sobre o assunto afirmando ter visto na rede social uma atualização de status que dizia: "Dave leu 'tal e tal notícias' no Yahoo! News", sendo que logo abaixo seus amigos interagiam sem que ele tivesse feito nada.

"Foi um pouco desconcertante ver que foi publicado na minha 'Wall' e na do meu amigo, e um amigo tinha visto e 'curtiu', tudo sem qualquer esforço da minha parte", reclamou ele, que tirou a permissão.
Evgeny Morozov, colunista da Folha de S.Paulo, foi mais além: o esforço combinado do Vale do Silício em cercar os internautas vai acabar com a criatividade da rede. Na semana passada, Zuckerberg se viu obrigado a admitir que vigia os usuários mesmo quando não estão logados no Facebook. Imagine isso em escala maior - bem maior.

E se tudo o que você vir na internet não passar de resultado de rastreamento? Todos os links e banners com sugestões de livros, filmes, músicas, roupas, lugares para frequentar... Tudo.

Os passos arriscados pelo dono do Facebook poderiam transformar o internauta crítico e ávido por conteúdo novo em alguém passivo que simplesmente recebe - sem perceber - o que lhe é mostrado.

Para quê serve?
Um caso que chamou atenção no mês passado e que foi repercutido esta semana pelo youPIX é o do estudante de direito Max Schrems, de Viena (Áustria). Ele pediu ao Facebook um relatório sobre ele próprio (há essa opção).

Depois de muita resistência, a equipe da rede social enviou um CD a Schrems com tudo o que ele já havia feito por lá durante os três anos em que manteve sua conta. Se impresso, o documento contém 1,2 mil páginas - nem serviços de inteligência possuem relatórios tão extensos.

Com isso em mãos, o estudante descobriu que o Facebook não apaga os dados quando você quer que isso seja feito, então entrou na Justiça contra a rede e criou um site chamado Europa versus Facebook para pedir transparência.

E toda essa informação virá à tona quando a Timeline for efetivamente implementada, pois ela mostrará fatos até então esquecidos. Todos divididos por período - como nascimento, começo e término de namoros, casamento, conquista de um novo emprego etc.

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