terça-feira, 1 de março de 2011

Duas Redações Premiadas

REDAÇÃO DE ESTUDANTE CARIOCA VENCE CONCURSO DA UNESCO COM 50.000 PARTICIPANTES
"Como Vencer a Pobreza e a desigualdade"
Por Clarice Zeitel Vianna Silva
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - RJ



Clarice Zeitel Vianna Silva
'PÁTRIA MADRASTA VIL'
Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência... Exagero de escassez... Contraditórios? Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL.
Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade.
O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de contradições.
Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil.', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil  está mais para madrasta vil.
A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira'. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica.
E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição!
É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!
A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão.
Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas preparadas para isso?
Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil.
Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona?
Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos.
Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente... Ou como bicho?


Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel, de 26 anos, estudante que termina faculdade de direito da UFRJ em julho, concorreu com outros 50 mil estudantes universitários.
Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por uma redação sobre 'Como vencer a pobreza e a desigualdade'


A redação de Clarice intitulada `Pátria Madrasta Vil´ foi incluída num livro, com  outros cem textos selecionados no concurso. A publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da UNESCO.


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Logo abaixo, vai transcrita a redação de Daniel Lavouras (Bagual) - um dos destaques do vestibular da UFRGS de 2008 segundo a COPERSE e o jornal Zero Hora.

Sobre o povo brasileiro

Charles de Gaulle teria dito que o Brasil não é um país sério. Estaria ele reverberando a percepção ruim que o europeu tem sobre nossa gente? Somos uma triste nação feliz, um preguiçoso país trabalhador. Decididamente somos um povo plural, uma linda mistura de paradoxos; quem nos entende?
Como a Escrava Isaura, buscamos nossa liberdade, lutamos pelo nosso crescimento. Mas temos nossos momentos de Leôncio, e, neste caso, não respeitamos os direitos dos outros, queremos ser mais espertos e levar vantagem em tudo.
Impetuosamente, não raro agimos com a determinação de Glauceste Satúrnio, a deflagrar uma guerra contra os Fanfarrões Minésios do Brasil. Entretanto, com freqüência temos recaídas, nas quais somos mais pobres em caráter que o Padre Amaro – que Eça de Queiroz nos permita o empréstimo deste ícone da literatura lusa.
Há ocasiões em que somos tão prolixos quanto Blau Nunes, talvez também narrando causos pouco verossímeis, mas enfim, estamos no Brasil, feliz e infelizmente.
Simão Bacamarte provavelmente teria aqui um fértil terreno para testar suas teses. Louco no Brasil é quem não deixa sujeira na praia e não freia no amarelo; louca é a Velhinha de Taubaté, que acredita em tudo que lhe dizem.
Amamos como Riobaldo, traímos como o não tão ingênuo Curvelo. Nossa filosofia por vezes é mais cruel que a Humanitas de Rubião. O brasileiro induz sorrisos e lágrimas, como quem muda da água para o vinho.
Nosso coração contém a pureza de Iracema, mas há espaço para a culpa de Martim. Sim, somos culpados, pois alienação, acomodação e indiferença são algemas que nos ancoram a tudo que é hipócrita, e nos distancia do progresso.
Quixotesco, dantesco ou simplesmente lamentável? Somos um desperdício de talento, de potencial. Se queremos ser Esaú ou Jacó, Omar ou Yaqub, devemos logo decidir.
Prezado Charles de Gaulle, obrigado pelo puxão de orelhas. Vou estudar muito, ser leal e honesto, respeitar meus amiguinhos e escovar os dentes antes de dormir. Brasileiros, uni-vos! Somos uma estrela que vai brilhar, vingaremos ainda o destino de Macabéa.
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(Prof. Daniel Lavouras é Mestre em Marketing pelo PPGA-UFRGS e Diretor do Sistema Elite de Ensino - Unidade Porto Alegre-RS)

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Meus sinceros parabéns a esses dois "escritores" brasileiros, pela coragem na exposição das nossas mazelas, que os políticos de ocasião fazem questão de esconder, a pretexto de um falso "otimismo".
No Brasil é comum a prática de se resolver problemas colocando creme chantily em cima do esterco...
Prof. Milton Araújo.

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